Types e Providers Explicado
Se você trabalha com Puppet há um certo tempo TEM que entender como Types e Providers funcionam.
Não apenas para decidir quando deve utilizá-lo em vez de um exec que executa um script - ou dois, mas também porque é essencial para entender o funcionamento do Puppet e dos types e providers nativos e/ou entregues por módulos de terceiros utilizados.
Defined Types x Custom Types
Não confundir custom types com defined types, que são apenas uma forma de criar um wrapper em cima de/reutilizando outro(s) recurso(s) existente(s). Neste artigo falaremos de custom resource types, mas iremos nos referir a estes apenas como types.
Types e Providers: o que são?
De fora o Puppet permite utilizar uma abordagem declarativa para gerenciar recursos que nativamente são gerenciados de forma imperativa. Mágica? Embora pareça a primeira vista, a técnica utilizada para resolver este problema é conhecida como abstração, que dentre outras dezenas de exemplos em computação permite que: exista um protocolo confiável (TCP) em cima de outro não confiável (IP); conexão persistente (HTTP Keep-Alive) em cima de uma pilha que não entende esse conceito, ou ainda um framework Web para manter estado em cima de um protocolo stateless como o HTTP.
Então alguém cria essas abstrações e só preciso me preocupar em resolver meus problemas? Errrr…
Há 15 anos, Joel Spolsky - criador do StackOverflow - apresentou um conceito interessante: The Law of Leaky Abstraction, que dentre outros pontos afirma que:
- “All non-trivial abstractions, to some degree, are leaky.”
As abstrações vão falhar, pouco ou muito, mas em algum momento você será surpreendido com um erro vindo diretamente da camada inferior. O que você faz? Alguém precisa “descer o nível” e entender o que está acontecendo…
- “So the abstractions save us time working, but they don’t save us time learning.”
As abstrações nos poupam tempo de trabalho (i.e. nos tornam mais produtivos), mas não nos isentam de aprender, au contraire, agora precisamos entender também a abstração. :)
Da mesma forma que não é uma boa ideia automatizar o desconhecido, também não é uma boa ideia utilizar uma ferramenta de gerência de configuração sem entender seu funcionamento ou os recursos sendo abstraídos (package
, user
, file
, concat
, file_line
, augeas
, etc).
Recursos nativos são utilizados o tempo todo e muitos módulos também se beneficiam de types e providers para entregar funcionalidades. (e.g. java_ks
, file_line
, concat
, archive
, etc)
Cedo ou tarde você precisará entender a abstração do Puppet, ou melhor, qual a “mágica” empregada para ser declarativo e convergir para o estado desejado de maneira idempotente. Entender isto aumentará consideravelmente sua produtividade e capacidade de depurar problemas.
Declarativo:
Estado de um recurso.
Convergência:
Tratar transições de estado.
De:
Para:
Diff:
- Alterar o shell de bash para zsh.
Idempotência
Aplicado múltiplas vezes sem alterar o estado final.
De:
Para:
Diff:
- Não houve mudança de estado, tudo certo por aqui. :)
Mais…
-
Outro motivo para aprender? - Enriquecer seu toolbox de desenvolvedor de infraestrutura para:
- ter a oportunidade de refatorar aquele exec/script para um custom type
- poder dizer com segurança que algo poderia ser melhor escrito como um custom type
- ou que algo poderia fazer parte de um custom type existente
- ou que poderia ser um novo provider para aquele type
Em resumo: habilidade de gerenciar qualquer coisa que possua uma interface de comunicação: servidores de aplicação, ferramentas de monitoramento, cofre de senha, nuvem privada e etc.
Types e providers: quando utilizar?
- Preciso gerenciar o estado de um recurso e os meios convencionais [1] não puderem me ajudar.
[1] file
com template, augeas
, concat
e file_line
são recursos poderosos para gerenciar arquivos de configuração, mas não resolvem todos os problemas…
Às vezes:
- a única forma de gerenciar um recurso é via API ou ferramenta CLI - que pode retornar dados estruturados ou não.
- arquivos de configuração muito complexos (XML, XSD, wtf?)
Já sei! Um exec
com sed
, awk
, curl
, xmlstarlet
e jq
e nós vamos voar alto! Ou ainda, uma outra alternativa - igualmente inapropriada - uma function
que “gera” a configuração que preciso.
Para começar, essas abordagens estão longe de serem declarativas e precisarão de uma abstração própria para realizar transições de estado e serem idempotente.
Cuidado com síndrome de exec
. Começa com: “exec
é poderoso, exec
pode fazer qualquer coisa MWUAHAHAAHHA (risada maléfica)”, passando por “Pra que template se tenho sed -i?” e termina de forma trágica seu manifesto sendo apenas um instrumento para declarar ações imperativas (scripts/comandos) com grandes chances de não ser idempotente. Não utilize Puppet como um meio de executar shell script, se esta for sua necessidade, existem ferramentas mais apropriadas para isso.
O Puppet possui um modelo bem definido para tratar esse problema, e funciona muito bem, afinal, é utilizado por todos types
e providers
que nós conhecemos e utilizamos.
NOTA: Trecho da documentação oficial do exec: “A caution: There’s a widespread tendency to use collections of execs to manage resources that aren’t covered by an existing resource type. This works fine for simple tasks, but once your exec pile gets complex enough that you really have to think to understand what’s happening, you should consider developing a custom resource type instead, as it will be much more predictable and maintainable.”
Construindo Types e Providers
Em breve a construção de types e providers será facilitada com o pdk - Puppet Development Kit - que também irá permitir que parâmetros e propriedades sejam tipados, eliminando a necessidade de validação/coerção de tipos.
Apesar destas mudanças, os conceitos fundamentais aqui explicados não mudarão.
Requisitos: Ruby
Qual o nome do seu type? Qual recurso ele abstrai? Vamos criar um custom resource type que gerencia um repositório no GitHub.
Ciclo de vida de um recurso ensurable
:
exists?
, create
, destroy
são métodos que devem ser implementados para, respectivamente: verificar se um recurso existe, criá-lo com o estado desejado e destruí-lo.
Veremos mais detalhes sobre o insync?
e o gerenciamento de uma propriedade na seção específica para este propósito.
NOTA: Na arquitetura Master/Agent, Types, providers e facts dentro de /lib
são distribuídos automaticamente via pluginsync.
Parameters
Os parâmetros mudam a forma como o Puppet gerencia um recurso, mas não necessariamente são mapeados para o estado de um recurso.
No nosso exemplo, temos name
- um tipo especial de parâmetro - e o access_token
, nossa credencial utilizada para gerenciar o repositório GitHub.
Um outro exemplo de parâmetro bastante comum é o ensure
, que possui uma forma simplificada de ser definido: chamada a ensurable
. Este parâmetro tem como objetivo determinar a ausência/presença de um recurso, mas em casos especiais, como do package
podem estar relacionado com uma propriedade de um recurso (i.e. versão).
O que torna o name
especial?
Para responder essa questão precisamos primeiro entender o que são recursos isomórficos, e a definição é simples: “Um recurso cujo nome corresponde a sua identidade (i.e. torna único)”. Exemplos: usuários, grupos, arquivos e basicamente qualquer outra coisa exceto o exec
.
Não posso gerenciar, em um mesmo sistema, dois usuários ou grupos com mesmo nome, ou arquivos com mesmo path, mas posso ter o mesmo comando exec
quantas vezes quiser.
Dessa forma, o name
é especial pois por padrão ele é o namevar
- o que identifica um recurso. Embora possamos escolher outro namevar
para nosso recurso, já que path
é o namevar
de file
, e o command
do exec
, diferente de user
que utiliza o o padrão (name
).
NOTA: Existem ainda casos especiais de recursos que precisam de mais de um parâmetro para identificá-los, como o
package
, já que posso ter o mesmo pacote (name
) emproviders
distintos (e.g. docker-yum e docker-pip). Esta técnica é conhecida como composite namevar e seu comportamento está atrelado ao comportamento dotitle_patterns
.
namevar
, name
, title
, e agora?
O name
assume o valor do title
por padrão, exceto quando o parâmetro marcado como namevar
(que por padrão é name
) for passado.
Por essa razão que você pode “brincar” com o title quando o namevar
for definido:
Mas ainda assim não poderiam existir recursos com mesmo title
em um catálogo, já que ele é utilizado para outros propósitos - como ordenação. Um bom exemplo de uso do title
em conjunto com namevar
é justamente como uma forma de referenciar um recurso se seu namevar
for dinâmico, como no exemplo abaixo:
NOTA: Existem também metaparameters disponíveis para serem utilizados em todos recursos, defined types ou custom types.
Properties
As propriedades podem ser mapeadas diretamente para o estado de um recurso. Podendo ser consultadas ou modificadas, como o caso da description e o toggles para private e has_issues do nosso repositório GitHub.
Diferente dos parâmetros, as propriedades são gerenciadas - possuem um ciclo de vida bem definido, controlado basicamente por três métodos: insync?(is)
, property_name
, property_name=(value)
NOTA: Se a propriedade não for de nenhum tipo complexo ou possuir alguma lógica especial para verificação, a implementação padrão de
insync?(is)
(compara o valor dos objetos) será suficiente e não haverá necessidade de sobreeescrevê-la.`
No exemplo acima temos todos os métodos necessários para ler o estado atual das propriedades e atualizá-las caso necessário. Essa lógica é específica de Provider.
Na prática, como essas leituras e modificações acessariam a API HTTP do GitHub teríamos que implementar de uma forma mais eficiente para minimizar os acessos.
NOTA: Alguns métodos adicionais de
Puppet::Property
podem ser sobreescritos para exibir de forma expressiva as mudanças em uma property.is_to_s
: a forma como o valor atual será exibido,should_to_s
: a forma como o valor desejado será exibido,change_to_s
: mensagem exibida quando uma propriedade é alterada.
Provider(s)
Como vimos acima, nossos types interagem diretamente com nossos providers, pois a forma como as propriedades são gerenciadas irá variar de acordo com o provider.
No nosso exemplo, não precisamos nos preocupar com diferentes sistemas operacionais e distribuições, já que a “única forma” de gerenciar nosso repositório é através da API HTTP, e essa integração irá funcionar da mesma forma em qualquer lugar utilizando bibliotecas nativas do Ruby.
No mundo real encontramos cenários mais complexos, como os providers yum
, puppet_gem
, pip
, apt
para o type package
, ou posix
e windows
para o file
.
Como restringir um provider a uma característica de um sistema? Como tratar as diferenças de funcionalidades entre diferentes providers?
confine
e feature
são os recursos para resolver este problemas e mais detalhes podem ser encontrados na documentação oficial.
autorequire
O autorequire
é outro recurso interessante utilizado na construção de types
, pois permite que um auto-relacionamento seja configurado, ou seja, caso um recurso específico seja encontrado no catálogo, um recurso daquele type
será executado apenas após aquele recurso.
Ele é o que permite, dentre outros exemplos, que um arquivo e um diretório pai não precisem ser explicitamente relacionados.
Mais…
Leia código: Tipos nativos (lib/puppet/type e lib/puppet/provider em puppetlabs-puppet) e diversos outros exemplos: puppetlabs-aws, puppetlabs-ciscopuppet, puppetlabs-postgresql, puppetlabs-mysql, puppetlabs-java_ks, , puppet-zabbix, puppet-archive